sábado, 20 de julho de 2013

Os Amigos Invisíveis


Os amigos não precisam estar ao lado para justificar a lealdade.
 Mandar relatórios do que estão fazendo para mostrar preocupação.
Os amigos são para toda a vida, ainda que não estejam conosco a vida inteira.
Temos o costume de confundir amizade com onipresença, e exigimos que
 as pessoas estejam sempre por perto, de plantão. Amizade não é
 dependência, submissão; não se tem amigos para concordar na íntegra,
 mas para revisar os rascunhos e duvidar da letra. É independência, é
 respeito, é pedir uma opinião que não seja igual, uma experiência
 diferente.
Se o amigo desaparece por semanas, imediatamente se conclui que ele
 ficou chateado por alguma coisa. Diante de ausências mais longas e
 severas, cobramos telefonemas e visitas. E já está falando mal dele
 por falta de notícias. Logo dele que nunca fez nada de errado !
O que é mais importante: a proximidade física ou a afetiva? A
 proximidade física nem sempre é afetiva. Amigo pode ser um álibi ou
 cúmplice ou um bajulador ou um oportunista, ambicionando interesses
 que não o da simples troca de convívio.
Amigo mesmo, demora a ser descoberto. É a permanência de seus conselhos
 e apoio que dirão de sua perenidade.
Amigo mesmo, modifica a nossa história, chega a nos combater pela
 verdade e discernimento, supera condicionamentos e conluios. São
 capazes de brigar com a gente pelo nosso bem-estar.
Assim como há os amigos imaginários da infância, há os amigos
 invisíveis da maturidade. Aqueles que não estão perto podem estar
 dentro. Tenho amigos que nunca mais vi, que nunca mais recebi
 novidades e os valorizo com o frescor de um encontro recente. Não vou
 mentir a eles, “vamos nos ligar?”, num esbarrão de rua. Muito menos
 dar desculpas esfarrapadas ao distanciamento.
Eles me ajudaram e não necessitam atualizar o cadastro para que sejam
 lembrados. Ou passar em casa todo o final de semana e me convidar para
 ser padrinho de casamento, dos filhos, dos netos, dos bisnetos. Caso
 os encontre, haverá a empatia da primeira vez, a empatia da última
 vez, a empatia incessante de identificação.
Amigos me salvaram da fossa, amigos me salvaram das drogas, amigos me
 salvaram da inveja, amigos me salvaram da precipitação, amigos me
 salvaram das brigas, amigos me salvaram de mim.
Os amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do
 Ensino Médio, da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da
 dança, dos cursos de inglês, da capoeira, da academia. Significativos
 em cada etapa de formação. Não estão na nossa frente diariamente, mas
 estão em nossa personalidade, determinando, de modo imperceptível, as
 nossas atitudes.
Quantas juras foram feitas em bares a amigos bêbados e trôpegos?
Amigo é o que fica depois da ressaca. É glicose no sangue. A serenidade.
(Fabrício Carpinejar, do livro Canalha)

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