quarta-feira, 15 de maio de 2013

Chão de Vento


 
Porque a vida é feita de proibições, eu não compus todas as canções, não percebi a brisa suspirar, eu esqueci cantigas de ninar, dei chances demais à voz dos credos, não rompi de vez todos os medos, roubei do tempo um tanto de carinho, não vi a flor amar o passarinho, perdi o trem na curva da vertente e não deixei o mel melar completamente. Porque a vida é feita de proibições, larguei o fio, soltaram-se os balões, deixei que o pião revirasse sozinho, mandei que o zangão se zangasse baixinho, desprezei a bruma que baixou o véu, permiti à palavra dormir no papel, evitei o desvio que atravessa a estrada, Não quis o desafio da ronda embriagada, não li o poema do poeta maldito e não tive o dilema do beijo infinito. Porque ainda há tempo para o encantamento, quebre-se o vidro do sermão absoluto, rompa-se a teia, reveja-se o estatuto, que a primavera quer amar o chão de vento. ..

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