segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Acostumamo-nos a ele, toleramos, mas não o amamos mais como homem ou mulher. Isso sim e uma grande traição!


Achar que fomos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano e capaz de amar apaixonadamente alguém, e depois com o passar dos anos, amarem de forma diferente” (Danielle Mitterrand, em referência a presença da amante e filha do ex marido, no velório deste).
Amar de forma diferente, com carinho e respeito. Uma vez que não é da natureza do homem viver sem paixão, e essa com o passar dos anos cede lugar ao amor simples, o amor tolerante, o amor que compreende, que compartilha, que quer o outro feliz.

Penso que a felicidade não implica somente em fidelidade (sexual). Porque existem vários tipos de traição. A traição a si mesmo, ao desejo de felicidade, que muitas vezes deixamos de viver em nome de princípios externos a nossa vontade. A traição de julgar nosso parceiro, de não desejá-lo, mas cumprir o papel de “esposa feliz, esposo feliz”, enquanto na verdade admiramos esse companheiro, mas já não o desejamos sexualmente! Acostumamo-nos a ele, toleramos, mas não o amamos mais como homem ou mulher. Isso sim e uma grande traição!

Realmente, o ser humano não é, nem nunca foi monogâmico, não faz parte de sua natureza. Desde os primórdios, quando houve a necessidade de unirem-se em grupos para sobreviver, foram–se formando as sociedades, e com elas vieram às regras para a boa convivência. O que antes era tomado pelo instinto, passou a ser domado pela moral.

O homem mascarou seus desejos mais primitivos, tal como o desejo sexual, que não diminui ou acabou simplesmente porque, em determinado momento foi feita uma escolha em detrimento de alguém, o qual achamos ser o parceiro ideal para viver, "até que a morte os separe" (penso deveria ser até que a paixão acabe).
O motivo dessa escolha quase sempre e o “AMOR”, o qual achamos que duraria para sempre (e dura por que amor dura), mas não é por amor que nos casamos é por um estado de amor. Enganamos-nos, pois o que nos move inicialmente é a paixão. E quando estamos apaixonados nada importa. Essa paixão é uma das maneiras que a natureza encontrou para promover a união e manter a perpetuação da espécie.Então a partir deste momento, quando assinamos nossa carta de, “Até que a morte nos separe”. Não nos damos conta de que é isso mesmo, uma sentença de morte( morte da individualidade )! Não no sentido literal da palavra, mas no sentido de passamos a viver em prol de outrem e esquecemos de nós mesmos.
 Quantas coisas deixamos de fazer em nome do “feliz para sempre”. Já não podemos pensar por nós mesmos, as decisões cabem aos dois, não importa quão pequenas e insignificantes sejam. Já não somos donos de nosso corpo, este pertence ao “parceiro”, portanto não tenho direito de decidir nem mesmo o que comer, ou vestir, pois se alguma dessas desagrada meu “parceiro” mesmo que me agrade, não me serve mais. Passamos a viver à sombra um do outro. Muitos sequer conseguem decidir o que usar ou comer sozinhas, tão condicionados estão. Cria-se um vínculo de dependência e anulação de si e do outro.

O ser humano deveria perceber se como humano! Capaz de desejar ser feliz consigo mesmo (sozinho), sem dependência, sem desconfianças, admitir que somos todos imperfeitos, que podemos amar mais de uma pessoa ao longo de nossa existência, como disse em dado momento Simone Beuvoir “Temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida”. Alguns desses amores nos escolhemos e mantemos (necessários) outros nos permitimos (contingentes), e esses dois fazem parte de nosso crescimento.

 Aprender que em cada fase da vida a vivenciamos de uma forma diferente, que estamos sendo moldados, lapidados por nossas experiências (boas ou ruins), nossos sentimentos (alegria ou tristeza), nossos sofrimentos (amor ou ódio), nossas descobertas (feias e belas), são elas que nos tornam o que somos, seres humanos melhores ou piores, mas sempre humanos, que podem acertar ou errar.

Veja bem. não estou fomentando que os parceiros saiam por ai fazendo o querem, em nome da paixão e da sede de viver, mas que façam suas escolhas de acordo com sua consciência como fez Daniele, ao permitir que outros seres humanos pudessem prestar a última homenagem a outro ser humano.
Afinal quem decide o que é certo ou errado em nossas vidas somos nós.
Fonte: Supertextos

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