sábado, 21 de abril de 2012

Queria fechar-me para balanço. Escrever "volto já" Pedir que fizessem o obséquio de bater à porta do lado - todos os assuntos passam a tratar-se lá.


Assim, como a tarde, morremos lentamente a cada fração de segundos.

Esse é o processo natural dos fatos, a ordem pela qual segue uma vida.

A minha, esqueci em uma prateleira do tempo, quem sabe, comparando-a a um bom vinho, que esquecido tende a ficar melhor.

Esqueci de mim. Esqueci de viver, sentir e curtir o melhor do momento da minha juventude, que se foi e sequer nos apresentamos.

Que tragédia!!!

Eu poderia ter quebrado as vidraças de minha janela, no entanto, não o fiz, omiti-me por detrás dos vidros no qual refletia apenas a imagem da mulher fragilizada.

Poderia ter escalado morros, montanhas, colocando-me acima de meus medos e inseguranças.

Poderia ter caminhado de olhos fechados, na certeza do andar firme e seguro.

Poderia ter desbravado horizontes, adentrado mundos, que se abriam diante de mim, no entanto hesitei!

Covardemente não arrisquei dar um só passo e, com isso continuei me arrastando.

Poderia de batido minhas asas, pelo menos ter tentado voar, mas fiquei em cima do muro, sem saber dele descer.

Tive a oportunidade de percorrer longas distâncias, de caminhar sem olhar as marcas deixadas no caminho, porém temi os futuros calos, que poderiam surgir nessa longa caminhada.

Eu pensei e, passei toda uma vida pensando... pensando... pensando...

Pensando em fazer, pensando ser, sonhando em realizar, mas sem coragens de arriscar, de mudar toda uma história, de virar a página e ler o próximo capítulo.

Foi assim, dessa forma que me tornei essa coisa chamada “dona de casa anônima”.

Dona de casa anônima, esquecida em seu anonimato, em um mundo, sem tamanha importância.

Transformei-me naquela que passa a vida vivendo, em função de outros, como se essa fosse a única missão em minha vida.
Que tragédia!!!

Eu morria a cada dia e nem percebia.

Morria de uma doença sem diagnóstico, conhecida por covardia e, que só atinge aqueles, que não possuem anticorpos para tal infestação e, infectados só lhes restam um caminho: Se enterrar junto à liberdade tão sonhada e não vivida.

Eu não quero enterrar a mim mesma, não tenho esse direito, mas tenho o dever de ainda hoje, antes do cair da tarde, fechar-me tal qual loja comercial, para um balanço, para uma avaliação onde possa reparar os lucros, prejuízos e o que restou, em meu estoque, para que amanhã, ao amanhecer possa erguer minhas portas e, expor minhas prateleiras, com novas mercadorias e marcas diversas de coragem, perseverança, decisão, atitude, determinação, respeito, amor próprio, dignidade e a liberdade, que sem mais a enterrei, mas não consegui matá-la.

Hoje, estarei fechando minhas portas para balanço...
Nádya Haua

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