segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças



''Quando a gente gosta,
a gente começa emprestando um livro,
depois um casaco, um guarda-chuva,
até que somos mais emprestados do que devolvidos.
(...)
Gostar é não devolver,
é se endividar de lembranças".


Carpinejar

Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.


Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
Amar o perecível,
o nada,
o pó,
é sempre despedir-se.
Hilda Hilst

Amei-te de repente, com a luminosa injustiça que me afastou de todos os que me amaram por me serem semelhantes.



"Dizem que o amor se faz de uma comunidade de interesses subterrâneos, restos de vozes, hábitos que nos ficam da infância como uma melodia sem letra, paixões pisadas na massa funda do tempo, mas nesses anos entre guerras, os sentimentos explicados não interessavam a ninguém. O amor era então uma criação fulminante do tédio e da inocência, feito do carnal recorte da beleza, magnífico de crueldade. Amei-te de repente, com a luminosa injustiça que me afastou de todos os que me amaram por me serem semelhantes."
(Inês Pedrosa)

É verdade que os amores eternos nunca morrem? .- É. Ou não seriam eternos....



Eternidades e partidas...

É verdade que os amores eternos nunca morrem? .

- É. Ou não seriam eternos.
- Mesmo que a pessoa esteja longe de você?
- Mesmo que a pessoa esteja longe de você ela estará mais perto do que voce pensa
- E como sabemos que aquele amor é eterno?
- Não sabemos. Até um dia.
- O dia em que ele vai embora?
- É. O dia em que ele vai embora mas nunca parte.

Fábio Fabretti

"O que é seu às suas mãos há de vir” (Machado de Assis)



Há pessoas que estão vindo muito

demoradas..."

João Guimarães Rosa

Quem vai pagar o enterro e as flores Se eu me morrer de amores?



Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal...
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?

Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

(A Hora íntima - Vinicius de Moraes)

Porque a vida continua sempre em frente, mas é nosso passado que modela quem somos hoje.

“Existem saudades competentes, aquelas que te fazem querer morrer pro mundo não te ver chorar tanto. Porque a gente lembra das risadas, não esquece dos abraços e, menos ainda, se perdoa por ter perdido aquela festa, aquele afago, aquele amor.

Saudade de verdade não se beija, porque ela se esconde no caminho do que queremos muito mas só lembramos ter tido. Saudade das músicas, dos gostos e dos cheiros, porque a vida continua sempre em frente, mas é nosso passado que modela quem somos hoje.”



Rani Ghazzaoui

domingo, 30 de janeiro de 2011

O meu planeta começou a ter pinceladas vermelhas e passou a se chamar "Amor"



“Porque antes eu tinha... uma alma mansa, um sorriso pouco, uma esperança diminuta, uns olhos opacos. E então tu apareceste com todas tuas mil cores, teus gestos bonitos, tua paz, teus beijos enlouquecidos, teus lábios ansiosos, teu corpo em brasa, tua delicadeza, tuas delícias, tua forma de amar. E o meu planeta começou a ter pinceladas vermelhas e passou a se chamar "Amor".”

Natália Anson Lima

Quase não tinha coragem de olhar-se no espelho frio; mas olhou, e ele mostrou-lhe uma mulher radiante



“Dentro do peito, no entanto; havia ainda aquele ponto brilhante, incandescente, de onde saía uma chuva de pequenas fagulhas. Era quase insuportável. Ela mal tinha coragem de respirar, por medo de atiçar aquele fogo ainda mais; contudo, respirava fundo... fundo. Quase não tinha coragem de olhar-se no espelho frio; mas olhou, e ele mostrou-lhe uma mulher radiante, com lábios trêmulos, sorridentes, grandes olhos escuros e um ar de quem está à espera de que alguma coisa... divina aconteça. Ela sabia que iria acontecer... infalivelmente...”

Katherine Mansfield

O amor acaba.



O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos... (Paulo Mendes Campos)

Eu sou tudo… Feito de nadas


Sou uma nota musical
Um sopro de assobio
Aquela nota perfeita,
A nota do som celestial
A nota compulsivamente desejada
Almejada por todos os músicos
Aquela nota pouco alcançada
Mas vivida por muito poucos
Sou um animal selvagem
Um cavalo bravo
Maron garrido, decidido, forte
Silenciosamente desejoso por ser amansado
Aquela égua linda e brava
Partilhada por muito poucos
Sou uma dimensão
Um plano no espaço tridimensional
Aquele plano virtualmente alcançado
Nunca realmente atingido
Sou aquela estrela brilhantemente viva,
Vista por poucos
Visitada por ninguém
Conhecida só pela tecnologia

Sou um ser único

Uma mulher bela, exótica, inteligente e independente
Carinhosa, quente, teimosa e egoísta
Sou a sensibilidade em carne e osso
Do amor fui feita, a ele me entrego
Por muitos sou dividida
A ninguém pertenço
Sou amada e magoada
Admirada e invejada
Acarinhada e ferida
Abraçada e rejeitada
Quero amar, viver e sentir
Quero-me desprender das coisas
Quero-me ligar mais às pessoas
Quero-me entregar a quem pertenço
Quero-me isolar daqueles que não me têm

Enfim,

Sou um mundo de personagens
Sou o pecado e a santidade
Na minha essência,
Sou eu mesma: feita de mim, para mim.
A mim não me pertenço e nem a ti
À mãe natureza, pertenço
Eu sou tudo, e sou nada.
Uns dizem-me Tsunami
Outros Anjo
Alguns dizem-me Anjo Tsunami
Eu sou "O Detalhe" num mundo de talhes
Eu digo-me, uma pitada de sal no doce mar
Um cubo de gelo no quente ar
Eu sou tudo…
…Feito de nadas
(encontrei sem autor)

Te sinto… Mesmo sabendo que não poderei te ter



Você
Te sinto…
Mesmo que ao longe você esteja.
Te quero…
Mesmo sabendo que não poderei te ter.
Queria poder te acariciar…
Queria sentir o teu calor…
Ouvir tuas palavras cheias de carinho…
Queria sorrir ao te ver…
Um vazio enorme surgiu dentro de mim…
Queria que o vento soprasse no seu ouvido
E fizesse você se lembrar que um dia…
Em algum lugar…
Alguém te amou…
Da forma que foi capaz…
Que colocasse dentro do seu coração
O carinho que havia nesse amor…
Que ele aquecesse seu coração nos momentos que se sentisse só…
Que fizesse você se lembrar…
Te procuro e não te vejo…


(autor desconhecido)

O anel que tu me deste, era vidro e logo se quebrou…

Aquele pequenino anel que tu me deste, – Ai de mim – era vidro e logo se quebrou… Assim também o eterno amor que prometeste, - Eterno! era bem pouco e cedo se acabou. Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, – Aquele pequenino anel que tu me deste, – Ai de mim – era vidro e logo se quebrou… Não me turbou, porém, o despeito que investe Gritando maldições contra aquilo que amou. De ti conservo no peito a saudade celeste… Como também guardei o pó que me ficou Daquele pequenino anel que tu me deste… (Manoel Bandeira)

Oh! Quantas vezes! Quantas vezes! Quantas! Ouviste o Anjo segredar baixinho: "Foge depressa, que o abismo é fundo!"



Quando sentires da tristeza o véu Cobrir-te a alma a soluçar de dor, Tudo perdido, as esperanças mortas, A vida escura sem nenhum calor... Quando sentires, nessas noites longas, Que a tua alma em sofrimento atroz Perdeu o rumo, como perde o barco Por entre a onda em vendaval feroz... E na amargura em que tu te consomes Ninguém te ajuda, nem um peito só; E quando vires que os amigos falsos, Inda te cobrem de mais lodo e pó... É nesse instante que na escuridão (Anjo celeste que enviou Jesus!) Alguém o pranto que teus olhos vertem, Aflito enxuga irradiando luz!, Anjo da Guarda de bondade imensa, Cuja missão é dirigir-te o passo, Contigo sofre porque não o ouviste, E te atiraste ao traiçoeiro laço! Oh! Quantas vezes! Quantas vezes! Quantas! Tu, fascinado com a ilusão do mundo, Ouviste o Anjo segredar baixinho: "Foge depressa, que o abismo é fundo!" Cumpre este Anjo sob a Luz do Cristo Missão sublime que lhe deu Maria: A de velar-te - não importa a hora, Seja de noite, madrugada ou dia! Quantas virtudes seu trabalho exige Para realizar-se em teu escuro mundo: Dedicação, que nem as mães possuem! A humildade e um amor profundo! Nos manicômios, no asilo ou creches, Nos hospitais ou nas prisões cruéis, Todos que sofrem nunca estão sozinhos, Nem mesmo as moças dos fatais bordéis! Por que não tentas conversar com o Guia? Ouvi-lo podes através da mente! E Anjo da Guarda tem visão do Cosmos! E vê além deste viver presente! Assim fazendo, encurtarás as provas Que se acumulam no passar do dia; Adeus tristezas, sofrimento, tédio! Ouve inda hoje a sábia voz do Guia!
Psicografado por Jorge Rizzini)

Mais uma vez fui vítima do destino....Destino talvez que eu mesma tenha traçado



Choro doído, sabendo que de nada adianta
Choro sentido mas sempre deixando para depois
temendo a tristeza e a solidão.
Sempre a espera, um, dois três dias...



Era inevitável, os acontecimentos estavam ali.
Não era necessário explicar nada
Porque não havia nada a esperar
A hora havia chegado...



Sabíamos que um dia seria o fim.
E esse dia chegou,
nosso coração marcado pela dor.
Deixei o sorriso triste de lado e desabei
a chorar, chorar sem nada esperar...



O que eu sentia era um doce encanto
que nem sei descrever, parece que sempre existiu
E agora eu alí, muda, sem saber o que falar
Senti as lágrimas rolar, sabendo que era o fim.



Esta dor nunca será cicatrizada
mais uma vez fui vítima do destino.
Destino talvez que eu mesma tenha traçado
E que neste sofrimento compreenda e saiba como lutar por um amor.



Rayma Lima

sábado, 29 de janeiro de 2011

Muito bom para rir ! Isso sim é que é uma informação (nutricional) de relevância... !!

SABEDORIA PROFUNDA !
O alimento mais completo é o
   pênis, tem leite, carne, dois ovos e  se consumido com prazer, pode encher a barriga por uns 9 meses !

A loja na verdade é subterrânea?

Mal pude crer nos olhos quando vi
o nome do lugar: A Loja da Verdade.
Ali eles vendiam a Verdade!

A funcionária ao balcão foi delicada:
que tipo de verdade eu procurava...
só parte dela ou a Verdade toda?
Pois claro, a Verdade toda.
Não me dê decepções nem altos pensamentos.
Eu disse que gostava da Verdade
muito clara, simples, inteira.
Ouvindo isto, ela conduziu-me então
para o outro lado do balcão onde vendiam,
somente aí, a tal Verdade inteira.

O comerciante olhou-me compassivo
e mostrou-me a «etiqueta» com o preço:
«Como assim?», perguntei, determinado
a conseguir, custasse o que custasse
a Verdade toda.
«É que... se levar esta Verdade,
o preço que por ela vai pagar
será não ter mais descanso na vida».
A Loja da Verdade.
Foi o que disse o homem do balcão
e eu, triste, afastei-me dessa loja
porque pensava eu, tolo, que podia
achar a Verdade inteira... a baixo preço.
Não estou pronto ainda para ela;
quero descanso e paz, de vez em quando;
sinto que preciso ainda de racionalizar,
de usar defesas,
escondendo-me atrás dessas muralhas
que levantei com crenças imbatíveis!

Anthony de Mello, O canto do pássaro

O que importa? O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida...



"Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida...
Lembra que o que importa é tudo que semeares colherás.
Por isso, marca a tua passagem,
deixa algo de ti,
do teu minuto,
da tua hora,
do teu dia,
da tua vida".

Mário Quintana

SEM PALAVRAS...



"Mais tarde eu saberia que certas experiências se partilham -
até mesmo sem palavras – só com gente da mesma raça.
O que não significa nem cor nem formato de olho
nem tipo de cabelo,
mas o indefinível parentesco da alma."

(Lya Luft)

In-vi-sí-vel. É aquilo que seus olhos não conseguem alcançar, o que você não consegue entender direito porque não vê.



'Invisível. Olha que coisa bem linda. In-vi-sí-vel. É aquilo que seus olhos não conseguem alcançar, o que você não consegue entender direito porque não vê. Invisível. Acho uma sonora - e reveladora - palavra.

Parei para pensar naquilo que não posso ver. São tantas coisas. Bonitas, feias, esquisitas, interessantes. Sentimento é invisível. Você apenas sente, mas não toca, não pega, não sente o calor, o cheiro, não tem noção de cor, forma, tamanho, jeito. Apenas sente, apenas deixa sentir - se coragem e disposição tiver.

O que a gente não pode ver excita e assusta. E ambas as reações acontecem exatamente pelo mesmo motivo: o medo do desconhecido. O estranho, não sabido. Invisível. O coração, que bate tanto, ninguém vê. O suspiro, o sonho, a felicidade, o gozo, a tristeza. Tudo é invisível, tudo acontece dentro de você. Tudo você pode esconder quando achar melhor ou bem entender.

Os olhos são visíveis - e muito dizem sobre quem somos. Pena que também possuem artimanhas e labirintos. Quantas vezes não fomos pegos por enrascadas de um olhar? Em quantos olhos aparentemente sinceros você já não acreditou? Por quantos olhares já não se deixou levar? A gente se engana, sim, com o olho no olho. Porque tem olho no olho que é planejado, jogada ensaiada de quem sabe jogar. E eu confesso: não sou do jogo. Sou péssima jogadora, por isso volta e meia perco.

A alma é invisível. O caráter é invisível. Ninguém enxerga, mas uma hora ou outra eles se manifestam, dão as caras, são notícia. Ninguém sustenta uma mentira muito tempo. Ninguém consegue manter duas caras a vida inteira. Uma hora a corda balança, você precisa se equilibrar e mostrar quem é. E não é nada fácil ser quem a gente é, abraçar defeitos, loucuras, fantasias alucinadas. Não é fácil se olhar no espelho e dar de cara com o que está visível.

Máquinas fotográficas registram momentos, manifestações de sentimentos, cenas, datas importantes. Fotos são pedaços de lembranças (porque uma parte fica na foto, a outra dentro da sua cabeça e coração). Tiramos fotos de tantas coisas. Já pensou se a gente conseguisse fotografar a alma das pessoas? Ver o que tem dentro, apreciar ou se horrorizar com o que cada um leva consigo. Ia ser bonito. Uma experiência única. E visível.'

(Clarissa Corrêa)

OS CHEIROS....Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos.




Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos. E basta uma mínima lembrança para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, as imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Era muito bom quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almoço, e se sentia o cheiro do refogado – alho, cebola e tomate – para fazer o picadinho ou o bife de panela enrolado no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos você leva para atravessar o tempo e voltar aos seus 11 anos?

Lembra quando há muitos, muitos anos, você ia passar as férias na fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absolutamente inesquecíveis: o do capim, o da terra depois da chuva, o do estábulo onde se ia de manhã bem cedo tomar o leite tirado da vaca, ainda morno, numa canequinha de alumínio. E o cheiro da tangerina? Aliás, tangerina não, mexerica; aquela pobrinha, modesta, de casca fina, que deixava a mão cheirando durante três dias. Esse é um cheiro muito alegre. O cheiro do bolo saindo do forno é para sempre – bolo de tabuleiro, cortado em losangos, com cobertura de açúcar com limão, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que se comesse não se engordava, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortificante para abrir o apetite. Que felicidade ter tido uma infância no interior! Mas existem outros aromas não ligados ao paladar e também inesquecíveis. O cheiro do mar quando se chega em Salvador – uma licença poética, com licença. E você já teve uma tia-avó que morava numa casa bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era dado a mão, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, e era chegar e ouvir: “Cuidado para não escorregar”. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Será que isso ainda existe?

Mas há também os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor você sabe o que lembra – melhor não falar disso. E existem os perfumes ricos: de carro novo, de um bom fumo de cachimbo. E vamos combinar: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto, e é proibido misturar. Por falar nisso, o cheiro do homem que se ama, depois do amor, é melhor nem lembrar para não desmaiar de saudade.

As cidades também têm seu cheiro, cada uma muito particular: se você for levada, de olhos vendados, para o Bloomingdale’s, sabe na hora que está em Nova York. E se respirar um aroma de cominho misturado a curry e a canela vai saber que está no souk de Marrakesh.

Mas existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha – nem mesmo a do pai –, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.

(Danuza Leão)

Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida, como quem não tem o que perder.



"Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida, como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça. Não espere. Promessas vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos se realizam, ou não. Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina. É o quão isso te faz sorrir. E só."

(Caio Fernando Abreu)

Pintar cabelo é um manifesto feminino. O equivalente ao serviço militar obrigatório.



Depois de dezoito anos, é mais do que um experimento, é mudar de vida.
Pode sinalizar uma separação, um novo namorado, último recurso para adiar uma dieta, desistência da terapia.
Serve também para desafiar as mechas maternas.
Tanto que a menina desmama quando pinta os cabelos.
Um contra-ataque ao coque e trança, artesanatos de postura impostos dentro de casa para ir à escola e festas.
Uma revolta ao regime tirânico do laquê, mousse, cera e gel, que obrigava o rosto a permanecer imóvel.
Corresponde a mais importante desobediência doméstica.
É quando a moça se desarma, se ama e assume a sexualidade de sua brincadeira.
Superior ao signo e ao histórico escolar, a mulher entende que é pelo cabelo que se apresenta ao mundo.
É pelo cabelo que ditará seu perfil, provará que é dramática, romântica, tímida, expansiva, agressiva, esportiva.
Com a bolsa e as sobrancelhas, forma a sagrada trindade da personalidade.
A idealização do marido não alcança a idealização cromática dos fios.
Ela delira com um cabeleira de bordas, redonda, macia, desembaraçada, lustrosa.
Aquela espontaneidade onde não se enxerga o fim.
Uma cabeleira infinita.
Dobrando o oceano dos ombros.
Vibrante.
Mas é quase impossível concretizar a metamorfose.
Por mais que cada uma siga as instruções da bula.
É como imitar as pinceladas de Van Gogh.
Como imitar as formas sensuais das banhistas de Monet.
Como imitar os movimentos de tons da ciranda de Matisse.
Pintar os cabelos será a primeira traição que o mulherio enfrenta.
A dureza já encontra seu auge no início.
Nem toda mulher quer ser loira, mas toda mulher precisa ser loira.
É um pedágio para encontrar a coloração do sonho.
Se ousar partir do matiz original para repetir as caixinhas, o espelho quebra.
Obrigatório clarear para diminuir o desastre.
Na ambição de ser ruiva, uma morena descobrirá o vermelho beterraba, longe do brilho e da intensidade da embalagem.
Terá na cabeça um incêndio apagado, sem labaredas, terra devastada, cinzas e fuligem.
Só com muita generosidade para chamar aquilo de ruivo, é o mesmo que confundir espinhas com sardas.
Muçulmanas, católicas, evangélicas, luteranas, taoístas, batistas…
Não há religião que salve.
O milagre nunca acontece conforme rezado.
Tingindo de amarelo verão, na ânsia de reproduzir os ares praianos de surfista e aventureira, o máximo que conseguirá é cabelo palha de inverno.
A decepção não tem fundo.
São quarenta minutos de expectativa frustrada.
Cereja terminará marrom.
Após cinco lavagens, torna-se água suja.
O preto azulado — que ninguém avisa — dependeria de licitação da Secretaria de Obras.
É, essencialmente, piche.
Para tirar, apenas cortando.
Conhecerá a maldição de fadas.
A dissolução do castelo.
Ao adormecer como Marilyn Monroe e seu fulgurante platinado, acordará como Cicciolina em fim de carreira.
Miragem – Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O GRITO DA TERRA!! Envenenar a Terra,é o mesmo que envenenar a Placenta,que está alimentando teu filho.


Sou um ser vivo e meu nome é Terra.Sou a casa do Homem.Sempre o acolhi e ofereci de graça, para ele:Moradia, oxigênio, água e alimento.Além de minha espetacular beleza...


O tempo passa e não sou honrada.Deus criou-me e abençoou-me.O homem foi formadodo meu pó... Bem depois de mim!Deus entregou-me por herança ao homem.Como cuida de sua velha mãe, o homem deveria cuidar melhor de mim.Só tenho recebido abandono, desprezo, desamor e pouca importância.


O petróleo é arrancado de minhas entranhase isto só me enfraquece.Poços são abertos e incendiados, com intenções vergonhosas e sádicas.


O homem espalhou sobre mim, uma manta negra chamada asfalto.Com ela, não consigo transpirar como outrora. Sinto-me sufocada, febril e doente.Este cobertor de asfalto tem me dado muito calor. Não consigo tirá-lo, para refrescar-me.


Arrancaram minhas vestes e me desnudaram.Minhas matas e florestas estão sendo destruídas, adulteradas e saqueadas.


Veja parte de minhas cicatrizes...


A assolação estendeu-se sobre meu corpo.Lançaram fogo sobre minhas vestes...Poucos correm para socorrer-me.Muitos estão cegos e insensíveis. Observam-me agonizando, enquanto contam seus lucros insaciáveis.


Estou sendo vergonhosamente atacada e dizimada, pela implacável crueldade humana.Antes, minha chuva molhava as plantações.Agora a chuva ácida, é provocada pelo homem, exterminando minhas vegetações.


Hidrelétricas possantes são construídas.Mas, a fauna, flora e rios, são sacrificados...As águas dos rios e dos mares,formam o meu sangue.

A camada de ozônio, minha proteção natural a teu favor, foi violentamente agredida.


Asfixiam-me com detritos e gases (monóxido de carbono).(Pequenos atos de educação, não jogando papel no chão, ou lixo nos córregos, já me ajudariam).


A poluição desenfreada, me contamina e me envenena, lentamente. Muitos seres estão pagando, com a própria vida. O homem pensa muito, em si mesmo.

Sinto-me sozinha e indefesa.Bombas atômicas são explodidas impiedosamente.Testes nucleares são constantemente realizados sobre mim. Mísseis e outros artesanatos nocivos são desenvolvidos, com a intenção de matar.


Minha superfície e biosfera, estão desequilibradas.Já não sou a mesma jovem do passado, sinto-me fraca.Não consigo mais controlar minhas reações.As vezes tenho tremores e sinto calores intensos, que não consigo esconder.


Degelo, aquecimento global e enchentes, são alguns sinais das enfermidades,que lançaram sobre mim.


Percebo que o homem realmente, não gosta de mim...É insensível aos meus tremores. Não ouve os meus gemidos e soluços.Mas, preciso gritar bem alto!


O homem não está percebendo minhas lágrimas...Minha voz está presente em meus sinais silenciosos...


Sou uma das pequenas engrenagens do Universo. Observo inúmeros objetos lançados pelo homem, formando ao meu redor, o lixo espacial. Depois não reclamem, não exijam nada de mim...


O homem acendeu uma bomba relógio contra si."Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará." (Gálatas 6 : 7)


Existem muitas bandeiras,que devem ser respeitadas, não é? Existem muitas leis... E eu (a Terra), que te alimento e te carrego no colo, de dia e de noite...Tenho algum direito?


Ouça meus últimos gritos:..Socorro! Ajuda-me!...Ainda dá tempo...Não me deixe ficar estéril.Tenho um compromisso contigo....Mesmo ferida....Preciso produzir grãos e alimentos. Para que possas viver! Esta é a tarefa que recebi de Deus:Cuidar de Você!Com proteção e Amor!



Assinado:TERRA, SUA CASA


Texto escrito e montado por:Waldimir Diniras Martins

Bunda mole, é ?! E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado para a caixa postal dele... A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.



Belinha acordou às seis, arrumou as crianças, levou-as para o colégio e voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações.

Fez um supermercado rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto, ao caixa automático tirar dinheiro.
No caminho do trabalho batucava ansiedade no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.

Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Belinha, fez de tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de experiência e dedicação, não conseguiu. Pensou se abdômen definido contaria ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do colégio de Clarinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de ouvido e febre.

Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu ela mesma ir até o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos próximos meses.

Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado. Pensou em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um mundo melhor.

Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.

Quando chegou em casa, descobriu que tinha deixado a pasta com o relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório! Telefonou para o celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papéis na empresa, mas o celular continuava fora de área.

Conseguiu, depois de vários telefonemas, que um moto boy lhe trouxesse os documentos.

Tomou um banho, deu a o jantar para as crianças, fez a os deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.

Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo, reclamando de tudo. Jantaram em silêncio.

Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de sono.

Artur a acordou com tesão. Como aqueles momentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer um último esforço e fazer aquilo que seu marido tanto queria.

Fizeram tudo rapidinho, meio mais ou menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadinha no seu traseiro com o seguinte comentário:
- Tá ficando com a bundinha mole, Belinha... Deixa de preguiça e começa a se cuidar..

Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou martelando a cabeça de Artur até ver seus miolos espalhados pelo travesseiro! Depois se viu pulando sobre o tórax dele até quebrar todas as costelas! Com um alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois lhe deu um chute tão brutal no saco, que voou espermatozóide para todos os lados!

Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de auto-ajuda: como controlar as emoções negativas.

Respirou três vezes profundamente, mentalizando a cor azul, e ponderou. Não ia valer a pena, não estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse sua defesa alegando que assassinou o marido, cega de tensão pré-menstrual...

Resolveu agir com sabedoria.

No dia seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem brigou com a empregada. Foi para uma academia e malhou duas horas.

De lá foi para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho. Ligou para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e do projeto dele.

E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.

Enquanto se hospedava num SPA, ouviu o marido desesperado tentar localizá-la pelo celular e descobrir por que ela havia sumido.

Pacientemente não atendeu.

E, como vingança é um prato que se come frio, mandou um recado lacônico para a caixa postal dele.
- A bunda ainda está mole. Só volto quando estiver dura.


Um beijo da preguiçosa...


(Extraído do livro: Esse sexo é feminino /Patrícia Travassos)

Você pode dormir enquanto os ventos sopram em sua vida?



Alguns anos atrás, um fazendeiro possuía terras ao longo do litoral do Atlântico. Ele constantemente anunciava estar precisando de empregados. A maioria das pessoas estavam pouco dispostas a trabalhar em fazendas ao longo do Atlântico. Temiam as horrorosas tempestades que varriam aquela região, fazendo estragos nas construções e nas plantações. Procurando por novos empregados, ele recebeu muitas recusas.

Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se aproximou do fazendeiro
- Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro.
- Bem, eu posso dormir enquanto os ventos sopram. Respondeu o pequeno homem.
Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou.

O pequeno homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer até o anoitecer e o fazendeiro estava satisfeito com o trabalho do homem.
Então, uma noite, o vento uivou ruidosamente.
O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. Sacudiu o pequeno homem e gritou:
- Levanta! Uma tempestade está chegando! Amarre as coisas antes que sejam arrastadas!

O pequeno homem virou-se na cama e disse firmemente:
- Não senhor. Eu lhe falei, eu posso dormir enquanto os ventos sopram.

Enfurecido pela resposta, o fazendeiro estava tentado a despedi-lo imediatamente. Em vez disso, ele se apressou a sair e preparar o terreno para a tempestade. Do empregado, trataria depois. Mas, para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos nos viveiros, e todas as portas muito bem travadas. As janelas bem fechadas e seguras. Tudo foi amarrado. Nada poderia ser arrastado.

O fazendeiro então entendeu o que seu empregado quis dizer, então retornou para sua cama para também dormir enquanto o vento soprava.
O que eu quero dizer com esta estória, é que quando se está preparado – espiritualmente, mentalmente e fisicamente – você não tem nada a temer.
Eu lhe pergunto: você pode dormir enquanto os ventos sopram em sua vida?
Espero que você durma bem!

**Autor desconhecido

Um pouco de raiva não me fará mal.


Um pouco de raiva não me fará mal.
Há frutos que apodrecem por excesso de doçura.
[Fabrício Carpinejar]

Mas eu gostava dele, como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita


Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego."

João Guimarães Rosa