terça-feira, 22 de março de 2011

O Parto, a Próstata e a Vingança



Ela com 19 e eu com 20 anos de idade.


Lua-de-mel,viagens, prestações da casa própria e o primeiro bebê, tudo uma beleza..

Anos oitenta a moda na época era ter uma filmadora do Paraguai.
Sempre tinha ou tem um vizinho ou mesmo amigo contrabandista, disposto a trazer aquela muambinha por um precinho muito bom!

Hora do parto ela tinha muita vergonha, mas eu teimoso, desejava muito eternizar aquele momento. Invadi a sala de parto com a câmera no ombro e chorei enquanto filmava o parto do meu primeiro filho.

Todo mundo que chegava lá em casa era obrigado a
assistir ao filme.

Perdi a conta de quantas cópias eu fiz do parto e distribuí entre amigos, parentes e parentes dos amigos.

Meu filho e minha esposa eram os meus orgulho e tesouro.

Três anos se passaram ai nova gravidez, novo parto, nova filmagem, nova crise de choro, tudo como antes.

Como ela "categoricamente" me disse que não queria que eu a filmasse dessa vez, sem ela esperar invadi a sala de parto e mais uma vez com a câmera ao ombro cumpri o mesmo ritual.

As pessoas que me conhecem sabem que em mim havia naquele momento apenas o amor de pai e marido apaixonado nesse ato.

O fato de fazer diversas cópias da fita era apenas uma demonstração de meu orgulho.

Nada que se comparasse ao fato de ela, essa semana num instinto de vingança, invadisse a sala do meu urologista, com a câmera ao ombro, filmando o meu exame de próstata.

Eu lá, com as pernas naquelas malditas perneiras, o cara com um dedo (ele jura que era só um!) quase na minha garganta e minha mulher gritando:

- Ah! Doutoooor!

Que maravilha! Vou fazer duas mil cópias dessa fita! Semana que vem estou enviando uma para o senhor!

Meus olhos saindo da órbita fuzilaram aquela cachorra, mas a dor era tanta que não conseguia nem falar.

O miserável do médico, pra se exibir, girou o dedão!!!

Ah eu na hora vi o teto a dois centímetros do meu nariz.

E a minha mulher continuou a gritar, como se fosse um diretor de cinema:

Isso, doutor! Agora gire de novo, mais devagar dessa vez. Vou dar um close agora...

Na hora alcancei um sapato no chão e joguei na maldita.

Agora amigos, estou escrevendo este e-mail, pedindo aos amigos, parentes e outro mais que receberem uma cópia do filme, que o enviem de volta para mim.

Eu pago o reembolso.

(Luiz Fernando Veríssimo)

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