segunda-feira, 20 de setembro de 2010

À tua espera

O meu mundo tem estado à tua espera ; mas

não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,

nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei

que um poema se escreveria entre nós dois ; mas

não comprei o vinho, não mudei os lençóis,

não perfumei o decote do vestido.

Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome

(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido)

se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -

estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro

com a violência de um incêndio ; mas parto

antes de saber como seria. Não me perguntes

porque se mata o sol na lâmina dos dias

e o meu mundo continua à tua espera :

houve sempre coisas de esguelha nas paisagens

e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes.

Maria do Rosário Pedreira

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