terça-feira, 30 de março de 2010

Estou escrevendo para não gritar...

Estou escrevendo para não gritar...

Para não acordar os que dormem felizes lado a lado,

Os que repousam aconchegados,

os que se encontram e continuam juntos

e não precisam sonhar,

Porque não dizem adeus....

Estou escrevendo para não gritar,

para enfunar o coração ao largo...

E as palavras escorrem salgadas

como um córrego de águas mortas.

Tão perto, e nem percebes minha insônia.

Nem ouves a confidência que põe nódoa no papel

para não ter que acordar-te,

e se transmuda em palavras,

que são estátuas de sal.

Estou escrevendo para não gritar.

Para não ter tempo de acompanhar a noite,

para não perceber que estou só,

Irremediavelmente só,

e que te trago comigo,

sem outra alternativa que o pensamento,

Cela em que me debate a olhar a lua entre grades.

Estou escrevendo para não gritar.

Para não perturbar os que amam,

e se juntam e se estreitam,

E sussuram na sombra e passeiam ao luar,

Para que as palavras chovam

Num dilúvio silenciosamente e me alegrem,

e me afaguem ,

E me deixem pela noite a dentro como um corpos

em vida e sem alma,

a flutuar....

**© J.G.de Araújo Jorge**

Nenhum comentário:

Postar um comentário