segunda-feira, 30 de novembro de 2009



© Silvana Duboc

Vem, cruza essa porta
te espero do lado da lareira,
te ofereço um vinho quente
pra tomares a vida inteira.
Te dou um sorriso por entre os dentes
como se estivesse diante de ti, impotente.
Depois vou perdendo a vergonha
te fulmino com meu olhar,
insinuo que quero te beijar.
Vem, te aproxima de mim,
me pega nos teus braços,
me dá aquele abraço apertado,
aquele que nunca foi dado.
Vem, aqui não tem ninguém,
estive guardando esse espaço pra ti
pensando em te admitir dentro de mim.
Faz tempo que ele andava vazio
calado, com frio,
carente de um amor
daqueles que não oferecem dor.
Vem, pode entrar,
tu não vais arrepender-te,
vais acostumar-te,
vais querer ficar.
Entra, bate a porta,
tranca com cuidado,
deixa do lado de fora o passado.
Agora sou eu o teu presente
embrulhado em papel dourado.
Serei também o teu futuro,
aposta nisso no escuro.
Não vais decepcionar-te,
não vou deixar.
Não vais querer ir embora
em nenhuma hora.
Vou esconder a chave,
vou te dar aquele vinho quente,
vou te dar o meu carinho de presente.
Vem pra mim,
poderá ser sempre assim
e quando o tempo passar,
quando a natureza não nos permitir mais amar,
quando ela não quiser mais que o teu corpo seduza o meu
ainda conservarei essa porta trancada
porque vão nos restar as palavras.
Com elas faremos como sempre fizemos,
viraremos noites de inverno,
as de outono serão de união,
as de verão, misturadas a ilusão
e na primavera elas se tornarão eternas.
Quando a sedução não for mais o nosso forte
ainda assim teremos sorte.
Nesse dia então faremos amor com o nosso olhar,
lembraremos do tempo que o teu corpo me encantava
e que o meu te excitava
e seremos ainda muito felizes
porque teremos criado raízes,
porque aquela porta ainda estará trancada,
a lareira ainda estará acessa,
o vinho sobre a mesa,
eu, dentro do teu coração
e tu a viveres ainda na minha emoção.

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