sábado, 14 de novembro de 2009

"A Receita"

Houve um tempo em que eu pensava que o amor era um bolo pronto, quente, com recheio de chocolate, qualquer coisa deliciosa e simples que encontramos sobre o café da manhã de um sábado de sol.
Eu pensava que encontraria o meu amor assim, pronto, lindo cheiroso, com um luminoso na testa piscando: "alma gêmea, alma gêmea, alma gêmea". Daríamos as mãos e sairíamos andando juntos, como ficaríamos até o envelhecer.
Eu não contava com dúvidas, medos, questionamentos, muito menos com a -hoje provável -possibilidade de mudar de idéia. Para mim o amor viria pronto para saborear, em caixinha, falaria conforme o script e não deixaria sequer um rastro de confusão ou tristeza na minha cabeça tola.
Antes, não havia a construção do amor. Havia o amor.
Mas eu me enganei.
O amor, se existir, não vem pronto. Se for um bolo de chocolate há de vir os ovos, a farinha o fermento. Com sorte virá uma receita por escrito. Normalmente não...
Ainda assim há de ter paciência para ver o bolo dourar, crescer, assar.
Há de ter sensibilidade para que não passe da hora, atenção para não deixá-lo queimar. E depois disso tudo, esperar esfriar, e ter um pouco de fome para saborear.
O amor, se existir, pode levar anos para estar pronto, uma vida inteira para, talvez, no final, percebermos que não assou, que estragou, que desmanchou no forno. Era pra ser amor, mas queimou, diremos cabisbaixos. Ou então, jovens demais, olharemos ofegantes: Era pra ser amor, mas está cru.
Talvez algumas vezes pareça que está pronto, o bolo. Apetitoso, cheiroso... Porém ao experimentar diremos: Ihh tá com gosto de farinha, mas era pra ser amor.
Ou então acontece de o bolo sair bom, tiramos uma garfada e vibramos satisfeitos: Achei! - Mas daí, quando vamos desenfornar, o bolo desmancha. Você fica lá, tentado juntar, ajeitar, mas o que era pra ser amor, está em pedaços....
Ah talvez por isso percamos a fome, nos cansamos e nos contentamos com qualquer coisa mais ou menos, sem recheio, sem gosto, sem açúcar... Eu, tenho escutado o padeiro dizer: Amor não tem mais não. Se quiser, leva esse aqui...
E lá vou eu carregando a sacolinha do bolo pulmman. Meio velho, frio, sem gosto. É só pra não morrer de fome mesmo...

Novamente do Estações.

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