terça-feira, 27 de outubro de 2009


Olhando a chuva
Cleide Canton


Chegou escurecendo os céus,
balançando as folhagens,
levantando a poeira
e as folhas secas do chão.
Chegou proferindo o sermão:
Acorde! Bradou o trovão.
Esconda-se! Continuou o raio.
Esteja atento! Gritou o vento.

Chegou tamborilando na vidraça
com furiosa audácia,
tiritando no telhado
que, ressequido, disse: Obrigado!
Limpou o marrom dos capins
e devolveu às flores a cor natural.

Deitou-se sobre os rios e mares
para um coito temporal.
Visitou os lugares escolhidos.
Os outros sentiram-se ofendidos.
Como veio, partiu...
E tudo voltou ao normal.
Brilhou o sol, afinal!

Vieste também, como a chuva,
gritando os teus desejos,
exigindo atenção,
revolvendo a poeira
do meu coração.

Chegaste de improviso,
brincando na janela do meu olhar
que se escancarou para te amar.
Limpaste toda a sujeira
dos meus sonhos cansados
e, com beijos ousados
tingiste o sépia do meu caminhar.
As flores do meu sorriso
voltaram a brilhar.

Enquanto "dois", éramos a beleza.
Ser "um" nos trouxe tristeza.
Então te foste...
Que importa!
O sol brilha
e está aberta a minha porta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário