sábado, 19 de setembro de 2009

IMPORTÂNCIA DAS CARÍCIAS

FOMES

Existe uma tendência nas pessoas no sentido de pensarem que os outros têm somente fome de comida: que o que um indivíduo necessita para ser feliz é somente alimento, roupa e casa.

Como essas coisas não são suficientes, o que vemos são muitas pessoas insatisfeitas reclamando:

- Meu pai só sabia me dar dinheiro, mas nunca me deu amor...

- Meu marido só pensa em coisas materiais...

- Eu não sei o que mais ela quer; tem casa, comida e conforto...

Realmente, o ser humano tem outras fomes, tão importantes como o alimento. Assim como precisamos de comida e descanso, necessitamos também de outros tipos de nutrientes para nos sentirmos saciados.

Lembra-se (e até pode ser que esteja acontecendo agora) de momentos em que você estava confortavelmente instalado em sua casa, depois de um ótimo jantar, e mesmo assim sentia falta de algo?

Certamente temos necessidade de algo mais que comida e abrigo.

Temos outras fomes a serem saciadas. E o mais importante é que o poder de satisfazê-las está em nós mesmos.

Aqui estão algumas dessas fomes:

Fome de estímulos

O ser humano necessita de sensações físicas, e de variar essas sensações: enfim, de estimular os sentidos (olfato, tato, visão, paladar, audição).

Quanto ao sabor: precisa de comida gostosa e variada... (quem agüenta comer salada de palmito todos os dias?)

Quanto a cores e formas: de paisagens bonitas, luz, gente bonita...

Quanto aos sons: músicas bonitas, do vento, do mar, voz de gente (quanta gente, quando chega em casa, a primeira coisa que faz é ligar o rádio?...)

Quanto a cheiros: de flor, de terra depois da chuva, da mulher amada, cheiro de manga madura, de comida quentinha...

Quanto a toques: do mar em um dia de verão, do lençol macio, do cobertor quente no inverno, das mãos do ser amado, daquele sapato velho para andar.

Ah! Quanta coisa boa para os nossos sentidos...

Fome de contato

É muito importante os seres humanos estarem em contato com os outros; por exemplo:

- Alguém tocando a cabeça do outro, um abraço de irmão, um olhar fraterno.

A sensação de pertencer à espécie humana.

Muitas vezes as pessoas acabam reprimindo esta fome, e trocando o contato físico por reconhecimento verbal.

Fome de conhecimento

O ser humano não sobrevive à indiferença.

Todos nós necessitamos ser reconhecidos, que as pessoas nos identifiquem, cumprimentem e nos valorizem.

Uns necessitam mais, outros menos.

Para um artista de televisão, saber que “somente” 1 milhão de pessoas assistiram a seu programa pode ser pouco, enquanto para um cientista saber que 10 pessoas leram seu relatório pode ser algo espetacular.

Sem dúvida, a pessoa que nos faz o reconhecimento também é importante. Pois se eu valorizar mais esta pessoa, sua valorização de mim vai ser mais importante ainda.

Fome sexual

O desejo sexual é também uma fome natural.

É natural o desejo e esta vontade de concretizar esse desejo, que se manifesta.

Simplesmente...

Como um botão tende a formar uma rosa,

Como a vontade que se tem de agarrar e ser agarrado...

É aquela coisa da paixão, da entrega...

É poder viver esse desejo...

Assim como comer quando se tem fome...

É tanto amor, que se tem o desejo de estar dentro do outro, e ter o outro dentro de si, no mais profundo da entrega.

Ter sexo como alimento, sem conflitos, como encontro amoroso, que seja muito mais que uma simples ejaculação.

Fome de estruturas

As estruturas são pontos de referência e os seres humanos necessitam ter suas referências, ver o mundo de uma maneira estruturada, como por exemplo: a cama de uma certa forma, suas cadeiras, o que vai fazer com o tempo, com sua vida.

Já pensou o que seria de nós, se não tivéssemos permanentemente onde dormir, se nossa casa mudasse de endereço todos os dias?

Você se lembra da confusão que muitas vezes se dá quando alguém arruma seus livros (a tal bagunça organizada)?

As estruturas levam as pessoas a terem suas referências. É comum alguém dizer: eu me sinto ansioso pois não sei o que nós somos; se amigos, amantes ou namorados...

E quando as estruturas se alteram, cria-se um jeito de organizar uma nova estrutura.

É assim que aparecem as “amizades coloridas”.

Fome de incidentes (acontecimentos)

Carecemos de que algo aconteça para que não se mergulhe fundo no tédio.

Precisamos de acontecimentos que nos tragam surpresas, novidades e excitação.

Necessitamos da beleza e do fascínio do inesperado.

A rotina, a repetição constante de qualquer coisa, por mais prazenteira que seja, leva-nos à saturação, à perda do interesse por algo monótono.

Nós necessitamos de algo novo, que traga de volta o brilho para nossa vida, para uma relação ou para o trabalho.

Essas fomes assim como a de comida, podem manifestar-se com uma intensidade maior ou menor. Em determinados momentos nós temos maior ou menor apetite.

Assim como as pessoas podem alterar patologicamente a fome de alimentos em quadros como a anorexia ou a obesidade extrema, pode-se alterar qualquer uma dessas fomes e usar-se o nutriente como substituto para algo que esteja faltando. Por exemplo, alguém pode usar sexo para tentar suprir a fome de transcendência, e cada vez mais ficar insatisfeito.

Cada pessoa tem apetites diferentes em relação a cada uma das fomes.

É o que ocorre com uma pessoa que tenha grande fome de estruturas e incidentes. Essa pessoa pode acabar arrumando um casamento fechado e com regras muito rígidas (para assegurar-se quanto ao que vai fazer hoje à noite ou daqui a 50 anos), porém para saciar a fome de incidentes ela necessita de emoções.

Então pode arrumar brigas muito dolorosas com reconciliações extremamente apaixonadas. Isso se dá para saciar a fome de incidentes sem romper a fome de estruturas.

Essas fomes existem. Estão aí, e elas não têm nada de errado. Importante é a maneira que cada um de nós cuida de suas fomes.

A importância das carícias advém da necessidade de satisfazer essas fomes.




Texto extraído do Livro: A CARÍCIA ESSENCIAL - Uma Psicologia do Afeto - de ROBERTO SHINYASHIKI.

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